segunda-feira, 21 de abril de 2008

Espaços Cromáticos



Caminhava entre as conchas do esquecimento . A cada onda que pulava , ficava mais confuso . A cidade que conhecera não existia mais , havia sido tragada por algum inexplicável acontecimento . Estranhamente observava que um prédio da orla continuava no mesmo lugar ; o edifício verde-mar e seus amplos espaços modernistas . Percebia que a areia ficava cada dia mais cítrica . O fenômeno acontecia devido aos reflexos solares de variações intensas . No caminho do antigo Aquário Municipal notara que os desenhos das calçadas haviam sido trocados , em vez das tradicionais representações de ondas , viam-se exóticos ideogramas . Lembrava de uma estátua em homenagem ao imigrante japonês , mesmo assim não entendeu o motivo da troca . Quando adolescente havia entrado no Verde-mar algumas vezes . Corredores labirínticos , a estranha localização dos elevadores , parecia uma representação de algum espaço submerso . A água do mar , vitral repleto de tonalidades suaves , os vazamentos de óleo não voltaram a ocorrer . As adolescentes cantavam árias cromáticas espalhadas pelos ventos de verão . Avistavam-se navios , o horizonte traçava uma linha paralela . Ela não está mais lá , com seus cílios árabes . Os dias mudaram , o carnaval no Clube Sírio pertence a outras gerações, que cantam músicas diferentes , não sabem que existiam conchas nas divisórias da areia.



Diniz Antônio Gonçalves Júnior

terça-feira, 15 de abril de 2008

ACONTECIDO ( Eucanaã Ferraz )

Como quem se banhasse
no mesmo rio
de águas repetidas,
outra vez era setembro
e o amor tão novo.
Iguais, teu hálito mascavo
e minha mão inquieta.
Novamente o quarto,
a praça vista da janela,
teu peito.
Depois eu era só - vê -
sob a chuva miúda daquele dia.