terça-feira, 31 de julho de 2007

Novo Tempo - Ivan Lins e Vitor Martins

No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
De todos os pecados, de todos enganos, estamos marcados
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas, quebrando as algemas
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça, fazendo pirraça

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Eugénio de Andrade ( Portugal )

Eugénio de Andrade

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

domingo, 22 de julho de 2007

Eu e a brisa - Johnny Alf

Ah! se a juventude que esta brisa canta
Ficasse aqui comigo mais um pouco
Eu poderia esquecer a dor de ser tão só
Pra ser um sonho
E aí então quem sabe alguém chegasse
Buscando um sonho em forma de desejo
Felicidade então pra nós seria
E depois que a tarde nos trouxesse a lua
Se o amor chegasse eu não resistiria
E a madrugada acalentaria nossa paz
Fica, oh! brisa fica
Pois talvez que sabe
O inesperado faça uma surpresa
E traga alguém que queira te escutar
E junto a mim, queira ficar,
Queira ficar, queira ficar.

sábado, 14 de julho de 2007

Maresia
(Paulo Machado e Antonio Cícero)

O meu amor me deixou
Levou minha identidade
Não sei nem mais onde estou
Nem onde a realidade
Ah, se eu fosse marinheiro
Eu é que tinha partido
Mas meu coração ligeiro
Não se teria partido
Ou se partisse colava
Com cola de maresia
Amava e desamava
Sem peso e sem poesia
Ah, se eu fosse marinheiro
Seria doce o meu lar
Não só o Rio de Janeiro
A imensidão e o mar
Leste Oeste Norte e Sul
Onde um homem se situa
Quando o sol sobre o azul
Ou quando no mar a lua
Não buscaria conforto
Nem pensaria em dinheiro
Um amor em cada porto
Ah, se eu fosse marinheiro

domingo, 8 de julho de 2007

Embarcação ( Francis Hime )

Sim, foi que nem um temporal
Foi um vaso de cristal
Que partiu dentro de mim
Ou quem sabe os ventos
Pondo fogo numa embarcação
Os quatro elementos
Num momento de paixão

Deus, eu pensei que fosse Deus
E que os mares fossem meus
Como pensam os ingleses
Mel, eu pensei que fosse mel
E bebi da vida
Como bebe um marinheiro de partida, mel
Meu, eu julguei que fosse meu
O calor do corpo teu
Que incendeia meu corpo há meses
Ar, como eu precisava amar
E antes mesmo do galo cantar
Eu te neguei três vezes
Cais, ficou tão pequeno o cais
Te perdi de vista para nunca mais

sexta-feira, 6 de julho de 2007

AGRIPPINO IS DEAD ( do blog do ademir assunção ) 5/7/2007




Foto: Maurício Simonetti

José Agrippino de Paula nunca ganhou nenhum prêmio Portugal Telecom. Nem sequer um mísero Jabuti. E precisava. Vivia isolado, marginal, durango, jogado às traças, no Embu das Artes. Subiu ontem. Infarto. Aos 69 anos (completaria 70 no próximo dia 13). Um gênio.

A Editora Papagaio republicou seus dois livros geniais: Lugar Público e PanAmérica. E vai publicar Nações Unidas, uma peça de teatro inédita (saíram trechos numa das últimas Coyotes), no segundo semestre.

E promete também o romance inacabado Os Favorecidos de Madame Estereofônica.

E eu continuo ouvindo Cazuza: “Brasil, mostra a sua cara / Quero ver quem paga / Pra gente ficar assim


Infelizmente as palavras de Argan sobre Van Gogh continuam válidas

Texto de Argan sobre Van Gogh

"O drama do artista que se sente excluído de uma sociedade que não utiliza seu trabalho , fazendo dele um desajustado , candidato ao suicídio e à loucura . Sociedade pragmatista que atribui ao trabalho a finalidade exclusiva do lucro não pode senão rejeitar aquele que , preocupado com a condição e o destino da humanidade , desmascara sua má consciência .

terça-feira, 3 de julho de 2007

Caetano Veloso

Mãe

Palavras, calas, nada fiz
Estou tão infeliz
Falasses, desses, visse não
Imensa solidão
Eu sou um Rei que não tem fim
Que brilhas dentro aqui
Guitarras, salas, vento, chão
Que dor no coração
Cidades, mares, povo, rio
Ninguém me tens amor
Cigarra, camas, colos, ninhos
Um pouco de calor
Eu sou um homem tão sozinho
Mas brilhas no que sou
E o teu caminha e o meu caminho
É um nem vais nem vou
Meninos, ondas, becos, mãe
E só porque não estais
És para mim que nada mais
Na boca das manhãs
Sou triste, quase um bicho triste
E brilhas mesmo assim
Eu canto, grito, corro, rio
Genipapo absoluto
(Caetano Veloso)

Como será pois se ardiam fogueiras
Com olhos de areia quem viu
Praias, paixões fevereiras
Não dizem o que junhos de fumaça e frio
Onde e quando é genipapo absoluto
Meu pai, seu tanino, seu mel
Prensa, esperança, sofrer prazeria
Promessa, poesia, Mabel
Cantar é mais do que lembrar
É mais do que ter tido aquilo então
Mais do que viver do que sonhar
É ter o coração daquilo
Tudo são trechos que escuto: vêm dela
Pois minha mãe é minha voz
Como será que isso era este som
Que hoje sim, gera sóis, dói em dós
"Aquele que considera" a saudade
Uma mera contraluz que vem
Do que deixou pra trás
Não, esse só desfaz o signo
E a "rosa também"

domingo, 1 de julho de 2007