sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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O Jotabê só veio reiterar o que já estou pensando há algum tempo. Gosto muito de frequentar a Praça. Meus amigos estão sempre por lá. Jogo bilhar com a rapaziada, converso com eles, bebo, e é divertido. Mas a premissa seria essa? E o teatro? Os bares andam mais lotados que os teatros. Isso é sintomático e perturbador. É preciso fazer algo em prol do teatro da praça e não deixar que o espaço vire apenas mais um point de balada, porque "Point", meu amigo, muda de endereço muito rápido. Não tenho nada contra a Adriane Galisteu ter ido lá participar de uma peça no DramaMix, mas então porque não colocar a peça dela às 6 da manhã? Ia lotar do mesmo jeito, não ia não? Afinal quem tá preocupado em ver a Adriane Galisteu, não está exatamente preocupado com teatro, então se o cara tá nessa fissura então ele que espere até o dia raiar. Eu por exemplo, estaria comendo pastel na feira. Só acho foda colocar a Adriane num horário bacana e colocar a rapaziada do Teatro da Curva (Didio, Celso e Zé Trassi) na peça da Lúcia (Vinte e Um) às 6 da manhã. A rapaziada faz teatro mesmo e tá há um puta tempão trampando ali na praça. A minha peça (Sad Christmas) foi começar já era tipo cinco da manhã. Tinha um público bacana, mas se fosse antes, teria lotado. E era uma apresentação só, de um texto inédito, montado especialmente para as Satyrianas, sem nenhum centavo de auxílio. E a bilheteria? Não existia. Eu não tô aqui querendo bancar o Corvo de Poe sobrevoando a Praça. Tô só refletindo na busca de melhorar o que tem tudo pra ser muito mais legal do que já é. E muito mais justo também. Não vou ficar falando disso em mesa de boteco, porque acho muito feio. Nisso sou diferente do meu Mestre e amigo Domingos de Oliveira que diz "que só fala mal de amigo em mesa de bar". É uma ótima frase, mas eu falo no blog mesmo que é pra todo mundo ficar sabendo o que eu penso e com minhas próprias palavras, porque há muito eu aprendi a não confiar em versões dos outros. Já presenciei uma cena do lado de uma pessoa. Depois vi a pessoa contando essa cena e fiquei pasmo. Pensei: "Não é possível que essa pessoa tenha visto a mesma cena que eu. Não foi assim que aconteceu". As pessoas tendem a aumentar o que aconteceu ou o que foi falado. Nunca ninguém diminui. Então se eu disser na mesa de um boteco que o fulano é um babaca, fatalmente quando alguém for contar o que eu disse, vai afirmar que eu chamei o fulano de "babaca, escroto e filho da puta". Sempre vai ser assim. Se um sujeito der um beijo em uma mulher, em menos de dois dias vão estar dizendo que o cara a engravidou de gemêos. É sempre assim. Por isso prefiro escrever aqui o que penso. As pessoas lêem e tiram suas próprias conclusões. Não quero ninguém distorcendo o que eu penso. Não quero ninguém dizendo por aí que sou contra "as satyrianas", que sou contra a praça ou que sou contra a Adriane Galisteu ou que estou jogando contra o belo trabalho do Ivan e do Rodolfo. Como diz o Jotabê "é um mundo grande e democrático". Tenho alguns amigos famosos, e gosto de encontrá-los no lugar que eu frequento. São figuras bacanas e gosto de conversar com eles. Mas acho um saco se eu perceber que eles estão sendo tratados de maneira diferente ou melhor que os meus amigos de boteco de todas as noites só porque a presença deles por ali pode atrair a atenção dos colunistas sociais. Afinal frequentar a praça hoje em dia é até fácil. A gente é do tempo que dividia a mesa do La Barca com a Marcinha e com outros travestis e era ótimo. Eu tive que ouvir a piadinha escrota que a Praça era um lugar perigoso porque a qualquer momento podia cair um travesti na sua cabeça. A piada (escrota pra caralho) brincava com o suícidio da Camila. Hoje em dia a Mariana Ximenez (que é uma menina legal pra caramba - só tô usando como exemplo) pode tomar uma cerveja lá sossegada e a rapaziada fica deslumbrada com isso. Gosto do Paulo Vilhena e gosto do Diniz. Gosto do Marco Ricca e gosto do Bob (Castro Alves). Gosto da Mel Lisboa e gosto da Maitê. E o meu abraço vai ser sempre o mesmo, e vai ser sincero. Que o mundo seja mesmo grande e democrático, mas que seja realmente democrático, porque caso contrário vai ficar bobo demais. E a gente não tem mais tempo pra esse tipo de bobagem. A praça é do povo, mas que os artistas que são os verdadeiros responsáveis pelo ressurgimento da mesma, possam começar a lucrar de verdade com isso. Não só no sentido financeiro, mas nesse também, é claro. Eu podia ficar calado e não falar nada sobre isso, mas eu nunca soube fazer parte do coro.

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