sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Mário Bortolotto

E ACABOU O CARNAVAL (?)

ou ALGUMA REFLEXÃO SOBRE A PRAÇA, AS SATYRIANAS, ETC, ETC




E acabou as Satyrianas. É um evento bacana pra caralho. Mas nesse último ano senti um pouco de desconforto e eu notei que o anjo do "Preacher" (ou era o demôniozinho do Tom & Jerry, sei lá) tava me dando uns tapões na orelha. A praça tava lotada demais. Era uma espécie de carnaval teatral. Parecia que eu tava na Bahia, em alguma espécie de micareta. Não tenho nada contra a Bahia, evidentemente, mas tenho tudo contra o carnaval, e o baiano me parece ser dos mais chatos com aquela porrada de trios elétricos e um exército de ivetes sangalos incitando a multidão a "sair do chão" e a ficar "na palminha da mão", sem contar a ameaça constante de trombar com o Carlinhos Brown saindo e entrando em beco. Tô começando a acreditar que no próximo ano a rapaziada vai estar vendendo abadá das Satyrianas. O comércio é que sempre se dá bem. Os bares devem ter vendido pra caralho. Até o Galícia ficou aberto de madruga. O Didio e o Ralph investiram na livre iniciativa de vender cerveja no porta-malas do carro do Ralph e se deram muito bem. Tudo certo, é claro. Quero mais é que todo mundo se dê bem. Do engraxate, passando pelo carinha que vende milho até a Marcinha que é a gerente do Bar dos Parlapatões. E os teatros tavam lotados. Todo mundo assistindo as peças, mas financeiramente os Grupos não lucraram nada (na boa, todo mundo sabia que ia ser assim, ninguém foi enganado), pois com esse lance do "pague quanto puder", a rapaziada aproveitava pra assistir as peças pagando de 10 centavos a 1 real e tudo certo. A festa é dos artistas, mas eles não ganham, o que eu acho bastante injusto. Quer dizer então que eu sou contra as "Satyrianas"? De jeito nenhum. Acho um evento corajoso pra caralho. Acho que o Ivan, o Rodolfo e o pessoal dos "Satyros" se esmeram pra fazer algo bacana e conseguem, mas ainda assim, não podemos nos furtar a reavaliar alguns pontos. As Satyrianas me fazem lembrar o Festival de Teatro de Londrina nos anos 80. Lembro que em certa época me recusei a participar do Festival com o meu Grupo e fui pra televisão falar sobre isso e escrevi artigos em jornal, etc. A parada era a seguinte: O Festival era gratuito. Enfim, lotava, sabe como é. Lembro de apresentações nossas com o Cine Teatro Ouro Verde (o maior da cidade) totalmente lotado com gente nos corredores e mais uma multidão lá fora. Aí a gente fazia uma temporada fora do festival cobrando um ingresso pra lá de simbólico e tinha meia dúzia na platéia. Quer dizer, a rapaziada ficava esperando pra ver a peça no Festival. Era meio "canto da sereia", tá ligado? A gente era um bando de moleques, via a platéia lotada e achava aquilo o máximo. Mas e daí? Aí quando caiu a ficha, entrei em guerra com a bagaça. Não deu outra. No ano seguinte, as regras mudaram. O festival passou a cobrar ingresso. Um ingresso bem barato (que era como eu achava que devia ser), mas ainda assim era um ingresso que seria revertido para os Grupos. O que aconteceu é que o festival continuou lotado, mas sem aquela loucura toda. Só ia lá assistir quem realmente tava a fim. Antes qualquer sujeito que não tinha nada pra fazer ia lá e acabava tumultuando os espetáculos. E além de tudo o Festival abriu um edital convocando os grupos que quisessem estrear os espetáculos no Festival. Era só se inscrever (passar por uma avaliação) e então os Grupos teriam uma ajuda de produção para montar os seus espetáculos. Foi a primeira vez na vida que tive algum dinheiro para produzir algo. Foi quando a gente montou "À Queima-Roupa". Foi quando comecei a me sentir profissional. Tô contando tudo isso e querendo dizer que as "Satyrianas" também devem mudar assim? Não sei. Apenas acho que algo devia ser feito. Que pontos precisam ser revistos. Hoje li um texto do jornalista Jotabê Medeiros onde ele fala da Praça Roosevelt. Olha só o que ele diz:

estive na praça rusvel outro dia para ver os amigos.
não sou um frequentador da praça rusvel, mas me lembro perfeitamente de quando o bortolotto e os amigos começaram a civilizar aquilo.
fizeram aquilo acontecer contra todos os prognósticos, todas as forças do atraso, todo o preconceito.
bom, naquele dia nós fomos meio maltratados pelo garçom, ficamos chateados, e o pinduca disse algo assim (não me lembro da frase precisa): “se fosse um global daqueles que agora andam por aqui, esse imbecil ficava de quatro para ele sentar em cima”, ironizou o poeta.
notei que havia mesmo um climão: os velhos confrades, os pioneiros, perdem espaço para os emergentes, os deslumbrados.
domingo, na coluna social, vi uma foto da adriane galisteu com o namorado no boteco, e mais meia dúzia de estrelas das revistas de fofocas, espalhados pela praça rusvel (copio descaradamente essa grafia do blog da clarah).
senti um calafrio: sinto que estavam ali apenas para ganhar um carimbo de “descolados”. não tinham nada a ver com o lugar.
mas é um mundo grande, e democrático.
só não gosto quando o garçom me diz que eu tô atrapalhando, esperando herdar minha cadeira para algum galã de novela. vá se foder.

(continua...)

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