sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Bardo Abelardo
Cleopatrida abala o baluarte da mansão das massas , risos em loudness ecoam nos recheios de rúcula e 7 queijos , fotos faladas segundo o senhor de bigodon branquelo
Bardo Abelardo - Visões da cidade
o vidro escuro impede a visão das pernas das moças , o furico arrebita na elipse fumê . A anabelle setembrina espalha as serpentinas no tapete do pet shop .
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Querido Diário
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Confesso, querido diário,
essa mulher me convulsiona
o ar de mártir no calvário
dentro da bacanal romana.
Garanto, querido diário,
que atrás da leve hipocondria
convive a hóstia de um sacrário
com o fogo da ninfomania.
(hum...)
Hoje, acordei
tomei café
me masturbei
comprei o jornal
fiz a fé no bicho
pichei o governo
me senti quadrado
fui ao analista
cantei babalu
mais fora de esquadro
do que esquerdista
no Grajaú.
E o tempo todo, meu diário,
pensava nela com amargura.
O arquipélago das sardas
nas costas nuas, que loucura!
Constato, querido diário:
muito pior do que esquecê-la
é encontrá-la pelas ruas
dizer: - olá, prazer em vê-la...
Autores: João Bosco & Aldir Blanc
Confesso, querido diário,
essa mulher me convulsiona
o ar de mártir no calvário
dentro da bacanal romana.
Garanto, querido diário,
que atrás da leve hipocondria
convive a hóstia de um sacrário
com o fogo da ninfomania.
(hum...)
Hoje, acordei
tomei café
me masturbei
comprei o jornal
fiz a fé no bicho
pichei o governo
me senti quadrado
fui ao analista
cantei babalu
mais fora de esquadro
do que esquerdista
no Grajaú.
E o tempo todo, meu diário,
pensava nela com amargura.
O arquipélago das sardas
nas costas nuas, que loucura!
Constato, querido diário:
muito pior do que esquecê-la
é encontrá-la pelas ruas
dizer: - olá, prazer em vê-la...
sábado, 4 de outubro de 2008
Samba de Verão 2 ( Paulo Sérgio Valle / Marcos Valle)
Composição: Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle
Você tem no seu andar
O mesmo jeito sensual e musical
De quem vi deixar nos passos pelo chão
Alegre divisão do samba de verão
Não fosse a revista, ante a vista vir
Mostrando os cosmonautas, nautas siderais
Marcando um outro tempo, tempo musical
Trazendo para o verso
Seu reverso temporal
Eu diria que a alegria
Fez a clave sol brilhar na luz do sol
A saudade em fato, feto, fundo e forma
Assume seu papel de não deixar morrer
Com alento agora atento ao seu andar
E vejo novo andamento musical
Descubro que esse tempo foi
E foi bom demais
Você tem no seu andar
O mesmo jeito sensual e musical
De quem vi deixar nos passos pelo chão
Alegre divisão do samba de verão
Não fosse a revista, ante a vista vir
Mostrando os cosmonautas, nautas siderais
Marcando um outro tempo, tempo musical
Trazendo para o verso
Seu reverso temporal
Eu diria que a alegria
Fez a clave sol brilhar na luz do sol
A saudade em fato, feto, fundo e forma
Assume seu papel de não deixar morrer
Com alento agora atento ao seu andar
E vejo novo andamento musical
Descubro que esse tempo foi
E foi bom demais
Paulo Leminski
Ali
ali
só
ali
se
se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse
se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce
ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
ali
só
ali
se
se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse
se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce
ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Anel de Ouro
Composição: Raphael Rabello e Aldir Blanc
Desde menino sempre sonhei
Com a ciranda em que o amor nos faz rodar:
Fragilidade de porcelana...
Testemunhei o anel de vidro se quebrar.
A duração de um verso,
Doce murmúrio
E depois dizer pra sempre adeus.
Quando eu te conheci acalentei
Sonhos tão loucos que pudessem nos salvar
Do fim e foi assim
Que em tal paixão só sosseguei
Com o anel de ouro que eu te dei.
Vivi feliz sem suspeitar
Que a ciranda em que o amor nos faz rodar
Guarda o martírio das coisas lindas,
Faz até mesmo um diamante se quebrar.
Uma palavra amarga,
Um desencanto
E depois dizer pra sempre adeus.
Quando eu te vi partir acalentei
Triste delírio em que o amor fosse evitar
O fim, mas, ai de mim,
Dessa paixão só resgatei
No prego o anel de ouro que eu te dei.
Composição: Raphael Rabello e Aldir Blanc
Desde menino sempre sonhei
Com a ciranda em que o amor nos faz rodar:
Fragilidade de porcelana...
Testemunhei o anel de vidro se quebrar.
A duração de um verso,
Doce murmúrio
E depois dizer pra sempre adeus.
Quando eu te conheci acalentei
Sonhos tão loucos que pudessem nos salvar
Do fim e foi assim
Que em tal paixão só sosseguei
Com o anel de ouro que eu te dei.
Vivi feliz sem suspeitar
Que a ciranda em que o amor nos faz rodar
Guarda o martírio das coisas lindas,
Faz até mesmo um diamante se quebrar.
Uma palavra amarga,
Um desencanto
E depois dizer pra sempre adeus.
Quando eu te vi partir acalentei
Triste delírio em que o amor fosse evitar
O fim, mas, ai de mim,
Dessa paixão só resgatei
No prego o anel de ouro que eu te dei.
Dois bombons e uma rosa
Aldir Blanc
Faço votos de feliz casamento,
parabéns pra você,
prevaleceu seu bom-senso.
Reconheço que era chato
ser a outra eternamente
com encontros marcados
por coisas do tipo “eu subo na frente”.
Finalmente teu garoto
vai ter um pai de primeira,
você mais segurança
e um pingüim na geladeira.
Na cabeceira um relógio,
a hora mais luminosa,
churrascaria aos domingos:
dois bombons e uma rosa.
Apenas quero fazer
a necessária ressalva:
jamais comente o passado,
lembre o conselho de Dalva.
Não há xampu, não há creme
que apague ou que desmarque
da tua pele o meu beijo
fedendo a conhaque.
Aldir Blanc
Faço votos de feliz casamento,
parabéns pra você,
prevaleceu seu bom-senso.
Reconheço que era chato
ser a outra eternamente
com encontros marcados
por coisas do tipo “eu subo na frente”.
Finalmente teu garoto
vai ter um pai de primeira,
você mais segurança
e um pingüim na geladeira.
Na cabeceira um relógio,
a hora mais luminosa,
churrascaria aos domingos:
dois bombons e uma rosa.
Apenas quero fazer
a necessária ressalva:
jamais comente o passado,
lembre o conselho de Dalva.
Não há xampu, não há creme
que apague ou que desmarque
da tua pele o meu beijo
fedendo a conhaque.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
terça-feira, 9 de setembro de 2008
meditação sobre o Tietê - Mário de Andrade
Água do meu Tietê,
Onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
E que me afastas do mar...
É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
É noite e tudo é noite. Uma ronda de sombras,
Soturnas sombras, enchem de noite de tão vasta
O peito do rio, que é como si a noite fosse água,
Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto. De repente
O ólio das águas recolhe em cheio luzes trêmulas,
É um susto. E num momento o rio
Esplende em luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas,
Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam
Agora, arranha-céus valentes donde saltam
Os bichos blau e os punidores gatos verdes,
Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas,
Luzes e glória. É a cidade... É a emaranhada forma
Humana corrupta da vida que muge e se aplaude.
E se aclama e se falsifica e se esconde. E deslumbra.
Mas é um momento só. Logo o rio escurece de novo,
Está negro. As águas oliosas e pesadas se aplacam
Num gemido. Flor. Tristeza que timbra um caminho de morte.
É noite. E tudo é noite. E o meu coração devastado
É um rumor de germes insalubres pela noite insone e humana.
Meu rio, meu Tietê, onde me levas?
Sarcástico rio que contradizes o curso das águas
E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens,
Onde me queres levar?...
Por que me proíbes assim praias e mar, por que
Me impedes a fama das tempestades do Atlântico
E os lindos versos que falam em partir e nunca mais voltar?
Rio que fazes terra, húmus da terra, bicho da terra,
Me induzindo com a tua insistência turrona paulista
Para as tempestades humanas da vida, rio, meu rio!...
Já nada me amarga mais a recusa da vitória
Do indivíduo, e de me sentir feliz em mim.
Eu mesmo desisti dessa felicidade deslumbrante,
E fui por tuas águas levado,
A me reconciliar com a dor humana pertinaz,
E a me purificar no barro dos sofrimentos dos homens.
Eu que decido. E eu mesmo me reconstituí árduo na dor
Por minhas mãos, por minhas desvividas mãos, por
Estas minhas próprias mãos que me traem,
Me desgastaram e me dispersaram por todos os descaminhos,
Fazendo de mim uma trama onde a aranha insaciada
Se perdeu em cisco e polem, cadáveres e verdades e ilusões.
Mas porém, rio, meu rio, de cujas águas eu nasci,
Eu nem tenho direito mais de ser melancólico e frágil,
Nem de me estrelar nas volúpias inúteis da lágrima!
Eu me reverto às tuas águas espessas de infâmias,
Oliosas, eu, voluntariamente, sofregamente, sujado
De infâmias, egoísmos e traições. E as minhas vozes,
Perdidas do seu tenor, rosnam pesadas e oliosas,
Varando terra adentro no espanto dos mil futuros,
À espera angustiada do ponto. Não do meu ponto final!
Eu desisiti! Mas do ponto entre as águas e a noite,
Daquele ponto leal à terrestre pergunta do homem,
De que o homem há de nascer.
Eu vejo; não é por mim, o meu verso tomando
As cordas oscilantes da serpente, rio.
Toda a graça, todo o prazer da vida se acabou.
Nas tuas águas eu contemplo o Boi Paciência
Se afogando, que o peito das águas tudo soverteu.
Contágios, tradições, brancuras e notícias,
Mudo, esquivo, dentro da noite, o peito das águas,
fechado, mudo,
Mudo e vivo, no despeito estrídulo que me fustiga e devora.
Destino, predestinações... meu destino. Estas águas
Do meu Tietê são abjetas e barrentas,
Dão febre, dão morte decerto, e dão garças e antíteses.
Nem as ondas das suas praias cantam, e no fundo
Das manhãs elas dão gargalhadas frenéticas,
Silvos de tocaias e lamurientos jacarés.
Isto não são águas que se beba, conhecido, isto são
Águas do vício da terra. Os jabirus e os socós
Gargalham depois morrem. E as antas e os bandeirantes e os ingás,
Depois morrem. Sobra não. Nem siquer o Boi Paciência
Se muda não. Vai tudo ficar na mesma, mas vai!... e os corpos
Podres envenenam estas águas completas no bem e no mal.
Isto não são águas que se beba, conhecido! Estas águas
São malditas e dão morte, eu descobri! e é por isso
Que elas se afastam dos oceanos e induzem à terra dos homens,
Paspalhonas. Isto não são água que se beba, eu descobri!
E o meu peito das águas se esborrifa, ventarrão vem, se encapela
Engruvinhado de dor que não se suporta mais.
Me sinto o pai Tietê! ôh força dos meus sovacos!
Cio de amor que me impede, que destrói e fecunda!
Nordeste de impaciente amor sem metáforas,
Que se horroriza e enraivece de sentir-se
Demagogicamente tão sozinho! Ô força!
Incêndio de amor estrondante, enchente magnânima que me inunda,
Me alarma e me destroça, inerme por sentir-me
Demagogicamente tão só!
A culpa é tua, Pai Tietê? A culpa é tua
Si as tuas águas estão podres de fel
E majestade falsa? A culpa é tua
Onde estão os amigos? Onde estão os inimigos?
Onde estão os pardais? e os teus estudiosos e sábios, e
Os iletrados?
Onde o teu povo? e as mulheres! dona Hircenuhdis Quiroga!
E os Prados e os crespos e os pratos e
os barbas e os gatos e os línguas
Do Instituto Histórico e Geográfico, e os museus e a Cúria,
e os senhores chantres reverendíssimos,
Celso niil estate varíolas gide memoriam,
Calípedes flogísticos e a Confraria Brasiliense e Clima
E os jornalistas e os trustkistas e a Light e as
Novas ruas abertas e a falta de habitações e
Os mercados?... E a tiradeira divina de Cristo!...
Tu és Demagogia. A própria vida abstrata tem vergonha
De ti em tua ambição fumarenta.
És demagogia em teu coração insubmisso.
És demagogia em teu desequilíbrio anticéptico
E antiuniversitário.
És demagogia. Pura demagogia.
Demagogia pura. Mesmo alimpada de metáforas.
Mesmo irrespirável de furor na fala reles:
Demagogia.
Tu és enquanto tudo é eternidade e malvasia:
Demagogia.
Tu és em meio à (crase) gente pia:
Demagogia.
És tu jocoso enquanto o ato gratuito se esvazia:
Demagogia.
És demagogia, ninguém chegue perto!
Nem Alberto, nem Adalberto nem Dagoberto
Esperto Ciumento Peripatético e Ceci
E Tancredo e Afrodísio e também Armida
E o próprio Pedro e também Alcibíades,
Ninguém te chegue perto, porque tenhamos o pudor,
O pudor do pudor, sejamos verticais e sutis, bem
Sutis!... E as tuas mãos se emaranham lerdas,
E o Pai Tietê se vai num suspiro educado e sereno,
Porque és demagogia e tudo é demagogia.
Olha os peixes, demagogo incivil! Repete os carcomidos peixes!
São eles que empurram as águas e as fazem servir de alimento
Às areias gordas da margem. Olha o peixe dourado sonoro,
Esse é um presidente, mantém faixa de crachá no peito,
Acirculado de tubarões que escondendo na fuça rotunda
O perrepismo dos dentes, se revezam na rota solene
Languidamente presidenciais. Ei-vem o tubarão-martelo
E o lambari-spitfire. Ei-vem o boto-ministro.
Ei-vem o peixe-boi com as mil mamicas imprudentes,
Perturbado pelos golfinhos saltitantes e as tabaranas
Em zás-trás dos guapos Pêdêcê e Guaporés.
Eis o peixe-baleia entre os peixes muçuns lineares,
E os bagres do lodo oliva e bilhões de peixins japoneses;
Mas és asnático o peixe-baleia e vai logo encalhar na margem,
Pois quis engolir a própria margem, confundido pela facheada,
Peixes aos mil e mil, como se diz, brincabrincando
De dirigir a corrente com ares de salva-vidas.
E lá vem por debaixo e por de-banda os interrogativos peixes
Internacionais, uns rubicundos sustentados de mosca,
E os espadartes a trote chique, esses são espadartes! e as duas
Semanas Santas se insultam e odeiam, na lufa-lufa de ganhar
No bicho o corpo do crucificado. Mas as águas,
As águas choram baixas num murmúrio lívido, e se difundem
Tecidas de peixe e abandono, na mais incompetente solidão.
Vamos, Demagogia! eia! sus! aceita o ventre e investe!
Berra de amor humano impenitente,
Cega, sem lágrimas, ignara, colérica, investe!
Um dia hás de ter razão contra a ciência e a realidade,
E contra os fariseus e as lontras luzidias.
E contra os guarás e os elogiados. E contra todos os peixes.
E também os mariscos, as ostras e os trairões fartos de equilíbrio e
Pundhonor.
Pum d'honor.
Qué-de as Juvenilidades Auriverdes!
Eu tenho medo... Meu coração está pequeno, é tanta
Essa demagogia, é tamanha,
Que eu tenho medo de abraçar os inimigos,
Em busca apenas dum sabor,
Em busca dum olhar,
Um sabor, um olhar, uma certeza...
É noite... Rio! meu rio! meu Tietê!
É noite muito!... As formas... Eu busco em vão as formas
Que me ancorem num porto seguro na terra dos homens.
É noite e tudo é noite. O rio tristemente
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
Água noturna, noite líquida... Augúrios mornos afogam
As altas torres do meu exausto coração.
Me sinto esvair no apagado murmulho das águas
Meu pensamento quer pensar, flor, meu peito
Quereria sofrer, talvez (sem metáforas) uma dor irritada...
Mas tudo se desfaz num choro de agonia
Plácida. Não tem formas nessa noite, e o rio
Recolhe mais esta luz, vibra, reflete, se aclara, refulge,
E me larga desarmado nos transes da enorme cidade.
Si todos esses dinossauros imponentes de luxo e diamante,
Vorazes de genealogia e de arcanos,
Quisessem reconquistar o passado...
Eu me vejo sozinho, arrastando sem músculo
A cauda do pavão e mil olhos de séculos,
Sobretudo os vinte séculos de anticristianismo
Da por todos chamada Civilização Cristã...
Olhos que me intrigam, olhos que me denunciam,
Da cauda do pavão, tão pesada e ilusória.
Não posso continuar mais, não tenho, porque os homens
Não querem me ajudar no meu caminho.
Então a cauda se abriria orgulhosa e reflorescente
De luzes inimagináveis e certezas...
Eu não seria tão-somente o peso deste meu desconsolo,
A lepra do meu castigo queimando nesta epiderme
Que encurta, me encerra e me inutiliza na noite,
Me revertendo minúsculo à advertência do meu rio.
Escuto o rio. Assunto estes balouços em que o rio
Murmura num banzeiro. E contemplo
Como apenas se movimenta escravizada a torrente,
E rola a multidão. Cada onda que abrolha
E se mistura no rolar fatigado é uma dor. E o surto
Mirim dum crime impune.
Vêm de trás o estirão. É tão soluçante e tão longo,
E lá na curva do rio vêm outros estirões e mais outros,
E lá na frente são outros, todos soluçantes e presos
Por curvas que serão sempre apenas as curvas do rio.
Há de todos os assombros, de todas as purezas e martírios
Nesse rolo torvo das águas. Meu Deus! meu
Rio! como é possível a torpeza da enchente dos homens!
Quem pode compreender o escravo macho
E multimilenar que escorre e sofre, e mandado escorre
Entre injustiça e impiedade, estreitado
Nas margens e nas areias das praias sequiosas?
Elas bebem e bebem. Não se fartam, deixando com desespero
Que o rosto do galé aquoso ultrapasse esse dia,
Pra ser represado e bebido pelas outras areias
Das praias adiante, que também dominam, aprisionam e mandam
A trágica sina do rolo das águas, e dirigem
O leito impassível da injustiça e da impiedade.
Ondas, a multidão, o rebanho, o rio, meu rio, um rio
Que sobe! Fervilha e sobe! E se adentra fatalizado, e em vez
De ir se alastrar arejado nas liberdades oceânicas,
Em vez se adentra pela terra escura e ávida dos homens,
Dando sangue e vida a beber. E a massa líquida
Da multidão onde tudo se esmigalha e se iguala,
Rola pesada e oliosa, e rola num rumor surdo,
E rola mansa, amansada imensa eterna, mas
No eterno imenso rígido canal da estulta dor.
Porque os homens não me escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que não me escutam
Os plutocratas e todos os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao coro das quatro estações.
Pois que mais uma vez eu me aniquilo sem reserva,
E me estilhaço nas fagulhas eternamente esquecidas,
E me salvo no eternamente esquecido fogo de amor...
Eu estalo de amor e sou só amor arrebatado
Ao fogo irrefletido do amor.
...eu já amei sozinho comigo; eu já cultivei também
O amor do amor, Maria!
E a carne plena da amante, e o susto vário
Da amiga, e a inconfidência do amigo... Eu já amei
Contigo, Irmão Pequeno, no exílio da preguiça elevada, escolhido
Pelas águas do túrbido rio do Amazonas, meu outro sinal.
E também, ôh também! na mais impávida glória
Descobridora da minha inconstância e aventura,
Desque me fiz poeta e fui trezentos, eu amei
Todos os homens, odiei a guerra, salvei a paz!
E eu não sabia! eu bailo de ignorâncias inventivas,
E a minha sabedoria vem das fontes que eu não sei!
Quem move meu braço? quem beija por minha boca?
Quem sofre e se gasta pelo meu renascido coração?
Quem? sinão o incêndio nascituro do amor?...
Eu me sinto grimpado no arco da Ponte das Bandeiras,
Bardo mestiço, e o meu verso vence a corda
Da caninana sagrada, e afina com os ventos dos ares, e enrouquece
Úmido nas espumas da água do meu rio,
E se espatifa nas dedilhações brutas do incorpóreo Amor.
Por que os donos da vida não me escutam?
Eu só sei que eu não sei por mim! sabem por mim as fontes
Da água, e eu bailo de ignorâncias inventivas.
Meu baile é solto como a dor que range, meu
Baile é tão vário que possui mil sambas insonhados!
Eu converteria o humano crime num baile mais denso
Que estas ondas negras de água pesada e oliosa,
Porque os meus gestos e os meus ritmos nascem
Do incêndio puro do amor... Repetição. Primeira voz sabida, o Verbo.
Primeiro troco. Primeiro dinheiro vendido. Repetição logo ignorada.
Como é possível que o amor se mostre impotente assim
Ante o ouro pelo qual o sacrificam os homens,
Trocando a primavera que brinca na face das terras
Pelo outro tesouro que dorme no fundo baboso do rio!
É noite! é noite!... E tudo é noite! E os meus olhos são noite!
Eu não enxergo siquer as barcaças na noite.
Só a enorme cidade. E a cidade me chama e pulveriza,
E me disfarça numa queixa flébil e comedida,
Onde irei encontrar a malícia do Boi Paciência
Redivivo. Flor. Meu suspiro ferido se agarra,
Não quer sair, enche o peito de ardência ardilosa,
Abre o olhar, e o meu olhar procura, flor, um tilintar
Nos ares, nas luzes longe, no peito das águas,
No reflexo baixo das nuvens.
São formas... Formas que fogem, formas
Indivisas, se atropelando, um tilintar de formas fugidias
Que mal se abrem, flor, se fecham, flor, flor, informes inacessíveis,
Na noite. E tudo é noite. Rio, o que eu posso fazer!...
Rio, meu rio... mas porém há-de haver com certeza
Outra vida melhor do outro lado de lá
Da serra! E hei-de guardar silêncio
Deste amor mais perfeito do que os homens?...
Estou pequeno, inútil, bicho da terra, derrotado.
No entanto eu sou maior... Eu sinto uma grandeza infatigável!
Eu sou maior que os vermes e todos os animais.
E todos os vegetais. E os vulcões vivos e os oceanos,
Maior... Maior que a multidão do rio acorrentado,
Maior que a estrela, maior que os adjetivos,
Sou homem! vencedor das mortes, bem nascido além dos dias,
Transfigurado além das profecias!
Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
Que sobe e se espraia, levando as auroras represadas
Para o peito dos sofrimentos dos homens.
... e tudo é noite. Sob o arco admirável
Da Ponte das Bandeiras, morta, dissoluta, fraca,
Uma lágrima apenas, uma lágrima,
Eu sigo alga escusa nas águas do meu Tietê.
Água do meu Tietê,
Onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
E que me afastas do mar...
É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
É noite e tudo é noite. Uma ronda de sombras,
Soturnas sombras, enchem de noite de tão vasta
O peito do rio, que é como si a noite fosse água,
Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto. De repente
O ólio das águas recolhe em cheio luzes trêmulas,
É um susto. E num momento o rio
Esplende em luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas,
Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam
Agora, arranha-céus valentes donde saltam
Os bichos blau e os punidores gatos verdes,
Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas,
Luzes e glória. É a cidade... É a emaranhada forma
Humana corrupta da vida que muge e se aplaude.
E se aclama e se falsifica e se esconde. E deslumbra.
Mas é um momento só. Logo o rio escurece de novo,
Está negro. As águas oliosas e pesadas se aplacam
Num gemido. Flor. Tristeza que timbra um caminho de morte.
É noite. E tudo é noite. E o meu coração devastado
É um rumor de germes insalubres pela noite insone e humana.
Meu rio, meu Tietê, onde me levas?
Sarcástico rio que contradizes o curso das águas
E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens,
Onde me queres levar?...
Por que me proíbes assim praias e mar, por que
Me impedes a fama das tempestades do Atlântico
E os lindos versos que falam em partir e nunca mais voltar?
Rio que fazes terra, húmus da terra, bicho da terra,
Me induzindo com a tua insistência turrona paulista
Para as tempestades humanas da vida, rio, meu rio!...
Já nada me amarga mais a recusa da vitória
Do indivíduo, e de me sentir feliz em mim.
Eu mesmo desisti dessa felicidade deslumbrante,
E fui por tuas águas levado,
A me reconciliar com a dor humana pertinaz,
E a me purificar no barro dos sofrimentos dos homens.
Eu que decido. E eu mesmo me reconstituí árduo na dor
Por minhas mãos, por minhas desvividas mãos, por
Estas minhas próprias mãos que me traem,
Me desgastaram e me dispersaram por todos os descaminhos,
Fazendo de mim uma trama onde a aranha insaciada
Se perdeu em cisco e polem, cadáveres e verdades e ilusões.
Mas porém, rio, meu rio, de cujas águas eu nasci,
Eu nem tenho direito mais de ser melancólico e frágil,
Nem de me estrelar nas volúpias inúteis da lágrima!
Eu me reverto às tuas águas espessas de infâmias,
Oliosas, eu, voluntariamente, sofregamente, sujado
De infâmias, egoísmos e traições. E as minhas vozes,
Perdidas do seu tenor, rosnam pesadas e oliosas,
Varando terra adentro no espanto dos mil futuros,
À espera angustiada do ponto. Não do meu ponto final!
Eu desisiti! Mas do ponto entre as águas e a noite,
Daquele ponto leal à terrestre pergunta do homem,
De que o homem há de nascer.
Eu vejo; não é por mim, o meu verso tomando
As cordas oscilantes da serpente, rio.
Toda a graça, todo o prazer da vida se acabou.
Nas tuas águas eu contemplo o Boi Paciência
Se afogando, que o peito das águas tudo soverteu.
Contágios, tradições, brancuras e notícias,
Mudo, esquivo, dentro da noite, o peito das águas,
fechado, mudo,
Mudo e vivo, no despeito estrídulo que me fustiga e devora.
Destino, predestinações... meu destino. Estas águas
Do meu Tietê são abjetas e barrentas,
Dão febre, dão morte decerto, e dão garças e antíteses.
Nem as ondas das suas praias cantam, e no fundo
Das manhãs elas dão gargalhadas frenéticas,
Silvos de tocaias e lamurientos jacarés.
Isto não são águas que se beba, conhecido, isto são
Águas do vício da terra. Os jabirus e os socós
Gargalham depois morrem. E as antas e os bandeirantes e os ingás,
Depois morrem. Sobra não. Nem siquer o Boi Paciência
Se muda não. Vai tudo ficar na mesma, mas vai!... e os corpos
Podres envenenam estas águas completas no bem e no mal.
Isto não são águas que se beba, conhecido! Estas águas
São malditas e dão morte, eu descobri! e é por isso
Que elas se afastam dos oceanos e induzem à terra dos homens,
Paspalhonas. Isto não são água que se beba, eu descobri!
E o meu peito das águas se esborrifa, ventarrão vem, se encapela
Engruvinhado de dor que não se suporta mais.
Me sinto o pai Tietê! ôh força dos meus sovacos!
Cio de amor que me impede, que destrói e fecunda!
Nordeste de impaciente amor sem metáforas,
Que se horroriza e enraivece de sentir-se
Demagogicamente tão sozinho! Ô força!
Incêndio de amor estrondante, enchente magnânima que me inunda,
Me alarma e me destroça, inerme por sentir-me
Demagogicamente tão só!
A culpa é tua, Pai Tietê? A culpa é tua
Si as tuas águas estão podres de fel
E majestade falsa? A culpa é tua
Onde estão os amigos? Onde estão os inimigos?
Onde estão os pardais? e os teus estudiosos e sábios, e
Os iletrados?
Onde o teu povo? e as mulheres! dona Hircenuhdis Quiroga!
E os Prados e os crespos e os pratos e
os barbas e os gatos e os línguas
Do Instituto Histórico e Geográfico, e os museus e a Cúria,
e os senhores chantres reverendíssimos,
Celso niil estate varíolas gide memoriam,
Calípedes flogísticos e a Confraria Brasiliense e Clima
E os jornalistas e os trustkistas e a Light e as
Novas ruas abertas e a falta de habitações e
Os mercados?... E a tiradeira divina de Cristo!...
Tu és Demagogia. A própria vida abstrata tem vergonha
De ti em tua ambição fumarenta.
És demagogia em teu coração insubmisso.
És demagogia em teu desequilíbrio anticéptico
E antiuniversitário.
És demagogia. Pura demagogia.
Demagogia pura. Mesmo alimpada de metáforas.
Mesmo irrespirável de furor na fala reles:
Demagogia.
Tu és enquanto tudo é eternidade e malvasia:
Demagogia.
Tu és em meio à (crase) gente pia:
Demagogia.
És tu jocoso enquanto o ato gratuito se esvazia:
Demagogia.
És demagogia, ninguém chegue perto!
Nem Alberto, nem Adalberto nem Dagoberto
Esperto Ciumento Peripatético e Ceci
E Tancredo e Afrodísio e também Armida
E o próprio Pedro e também Alcibíades,
Ninguém te chegue perto, porque tenhamos o pudor,
O pudor do pudor, sejamos verticais e sutis, bem
Sutis!... E as tuas mãos se emaranham lerdas,
E o Pai Tietê se vai num suspiro educado e sereno,
Porque és demagogia e tudo é demagogia.
Olha os peixes, demagogo incivil! Repete os carcomidos peixes!
São eles que empurram as águas e as fazem servir de alimento
Às areias gordas da margem. Olha o peixe dourado sonoro,
Esse é um presidente, mantém faixa de crachá no peito,
Acirculado de tubarões que escondendo na fuça rotunda
O perrepismo dos dentes, se revezam na rota solene
Languidamente presidenciais. Ei-vem o tubarão-martelo
E o lambari-spitfire. Ei-vem o boto-ministro.
Ei-vem o peixe-boi com as mil mamicas imprudentes,
Perturbado pelos golfinhos saltitantes e as tabaranas
Em zás-trás dos guapos Pêdêcê e Guaporés.
Eis o peixe-baleia entre os peixes muçuns lineares,
E os bagres do lodo oliva e bilhões de peixins japoneses;
Mas és asnático o peixe-baleia e vai logo encalhar na margem,
Pois quis engolir a própria margem, confundido pela facheada,
Peixes aos mil e mil, como se diz, brincabrincando
De dirigir a corrente com ares de salva-vidas.
E lá vem por debaixo e por de-banda os interrogativos peixes
Internacionais, uns rubicundos sustentados de mosca,
E os espadartes a trote chique, esses são espadartes! e as duas
Semanas Santas se insultam e odeiam, na lufa-lufa de ganhar
No bicho o corpo do crucificado. Mas as águas,
As águas choram baixas num murmúrio lívido, e se difundem
Tecidas de peixe e abandono, na mais incompetente solidão.
Vamos, Demagogia! eia! sus! aceita o ventre e investe!
Berra de amor humano impenitente,
Cega, sem lágrimas, ignara, colérica, investe!
Um dia hás de ter razão contra a ciência e a realidade,
E contra os fariseus e as lontras luzidias.
E contra os guarás e os elogiados. E contra todos os peixes.
E também os mariscos, as ostras e os trairões fartos de equilíbrio e
Pundhonor.
Pum d'honor.
Qué-de as Juvenilidades Auriverdes!
Eu tenho medo... Meu coração está pequeno, é tanta
Essa demagogia, é tamanha,
Que eu tenho medo de abraçar os inimigos,
Em busca apenas dum sabor,
Em busca dum olhar,
Um sabor, um olhar, uma certeza...
É noite... Rio! meu rio! meu Tietê!
É noite muito!... As formas... Eu busco em vão as formas
Que me ancorem num porto seguro na terra dos homens.
É noite e tudo é noite. O rio tristemente
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
Água noturna, noite líquida... Augúrios mornos afogam
As altas torres do meu exausto coração.
Me sinto esvair no apagado murmulho das águas
Meu pensamento quer pensar, flor, meu peito
Quereria sofrer, talvez (sem metáforas) uma dor irritada...
Mas tudo se desfaz num choro de agonia
Plácida. Não tem formas nessa noite, e o rio
Recolhe mais esta luz, vibra, reflete, se aclara, refulge,
E me larga desarmado nos transes da enorme cidade.
Si todos esses dinossauros imponentes de luxo e diamante,
Vorazes de genealogia e de arcanos,
Quisessem reconquistar o passado...
Eu me vejo sozinho, arrastando sem músculo
A cauda do pavão e mil olhos de séculos,
Sobretudo os vinte séculos de anticristianismo
Da por todos chamada Civilização Cristã...
Olhos que me intrigam, olhos que me denunciam,
Da cauda do pavão, tão pesada e ilusória.
Não posso continuar mais, não tenho, porque os homens
Não querem me ajudar no meu caminho.
Então a cauda se abriria orgulhosa e reflorescente
De luzes inimagináveis e certezas...
Eu não seria tão-somente o peso deste meu desconsolo,
A lepra do meu castigo queimando nesta epiderme
Que encurta, me encerra e me inutiliza na noite,
Me revertendo minúsculo à advertência do meu rio.
Escuto o rio. Assunto estes balouços em que o rio
Murmura num banzeiro. E contemplo
Como apenas se movimenta escravizada a torrente,
E rola a multidão. Cada onda que abrolha
E se mistura no rolar fatigado é uma dor. E o surto
Mirim dum crime impune.
Vêm de trás o estirão. É tão soluçante e tão longo,
E lá na curva do rio vêm outros estirões e mais outros,
E lá na frente são outros, todos soluçantes e presos
Por curvas que serão sempre apenas as curvas do rio.
Há de todos os assombros, de todas as purezas e martírios
Nesse rolo torvo das águas. Meu Deus! meu
Rio! como é possível a torpeza da enchente dos homens!
Quem pode compreender o escravo macho
E multimilenar que escorre e sofre, e mandado escorre
Entre injustiça e impiedade, estreitado
Nas margens e nas areias das praias sequiosas?
Elas bebem e bebem. Não se fartam, deixando com desespero
Que o rosto do galé aquoso ultrapasse esse dia,
Pra ser represado e bebido pelas outras areias
Das praias adiante, que também dominam, aprisionam e mandam
A trágica sina do rolo das águas, e dirigem
O leito impassível da injustiça e da impiedade.
Ondas, a multidão, o rebanho, o rio, meu rio, um rio
Que sobe! Fervilha e sobe! E se adentra fatalizado, e em vez
De ir se alastrar arejado nas liberdades oceânicas,
Em vez se adentra pela terra escura e ávida dos homens,
Dando sangue e vida a beber. E a massa líquida
Da multidão onde tudo se esmigalha e se iguala,
Rola pesada e oliosa, e rola num rumor surdo,
E rola mansa, amansada imensa eterna, mas
No eterno imenso rígido canal da estulta dor.
Porque os homens não me escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que não me escutam
Os plutocratas e todos os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao coro das quatro estações.
Pois que mais uma vez eu me aniquilo sem reserva,
E me estilhaço nas fagulhas eternamente esquecidas,
E me salvo no eternamente esquecido fogo de amor...
Eu estalo de amor e sou só amor arrebatado
Ao fogo irrefletido do amor.
...eu já amei sozinho comigo; eu já cultivei também
O amor do amor, Maria!
E a carne plena da amante, e o susto vário
Da amiga, e a inconfidência do amigo... Eu já amei
Contigo, Irmão Pequeno, no exílio da preguiça elevada, escolhido
Pelas águas do túrbido rio do Amazonas, meu outro sinal.
E também, ôh também! na mais impávida glória
Descobridora da minha inconstância e aventura,
Desque me fiz poeta e fui trezentos, eu amei
Todos os homens, odiei a guerra, salvei a paz!
E eu não sabia! eu bailo de ignorâncias inventivas,
E a minha sabedoria vem das fontes que eu não sei!
Quem move meu braço? quem beija por minha boca?
Quem sofre e se gasta pelo meu renascido coração?
Quem? sinão o incêndio nascituro do amor?...
Eu me sinto grimpado no arco da Ponte das Bandeiras,
Bardo mestiço, e o meu verso vence a corda
Da caninana sagrada, e afina com os ventos dos ares, e enrouquece
Úmido nas espumas da água do meu rio,
E se espatifa nas dedilhações brutas do incorpóreo Amor.
Por que os donos da vida não me escutam?
Eu só sei que eu não sei por mim! sabem por mim as fontes
Da água, e eu bailo de ignorâncias inventivas.
Meu baile é solto como a dor que range, meu
Baile é tão vário que possui mil sambas insonhados!
Eu converteria o humano crime num baile mais denso
Que estas ondas negras de água pesada e oliosa,
Porque os meus gestos e os meus ritmos nascem
Do incêndio puro do amor... Repetição. Primeira voz sabida, o Verbo.
Primeiro troco. Primeiro dinheiro vendido. Repetição logo ignorada.
Como é possível que o amor se mostre impotente assim
Ante o ouro pelo qual o sacrificam os homens,
Trocando a primavera que brinca na face das terras
Pelo outro tesouro que dorme no fundo baboso do rio!
É noite! é noite!... E tudo é noite! E os meus olhos são noite!
Eu não enxergo siquer as barcaças na noite.
Só a enorme cidade. E a cidade me chama e pulveriza,
E me disfarça numa queixa flébil e comedida,
Onde irei encontrar a malícia do Boi Paciência
Redivivo. Flor. Meu suspiro ferido se agarra,
Não quer sair, enche o peito de ardência ardilosa,
Abre o olhar, e o meu olhar procura, flor, um tilintar
Nos ares, nas luzes longe, no peito das águas,
No reflexo baixo das nuvens.
São formas... Formas que fogem, formas
Indivisas, se atropelando, um tilintar de formas fugidias
Que mal se abrem, flor, se fecham, flor, flor, informes inacessíveis,
Na noite. E tudo é noite. Rio, o que eu posso fazer!...
Rio, meu rio... mas porém há-de haver com certeza
Outra vida melhor do outro lado de lá
Da serra! E hei-de guardar silêncio
Deste amor mais perfeito do que os homens?...
Estou pequeno, inútil, bicho da terra, derrotado.
No entanto eu sou maior... Eu sinto uma grandeza infatigável!
Eu sou maior que os vermes e todos os animais.
E todos os vegetais. E os vulcões vivos e os oceanos,
Maior... Maior que a multidão do rio acorrentado,
Maior que a estrela, maior que os adjetivos,
Sou homem! vencedor das mortes, bem nascido além dos dias,
Transfigurado além das profecias!
Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
Que sobe e se espraia, levando as auroras represadas
Para o peito dos sofrimentos dos homens.
... e tudo é noite. Sob o arco admirável
Da Ponte das Bandeiras, morta, dissoluta, fraca,
Uma lágrima apenas, uma lágrima,
Eu sigo alga escusa nas águas do meu Tietê.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Beguine Dodói
Autores: João Bosco, Aldir Blanc & Cláudio Tolomei
Olha meu bem
o que restou
daquele grande herói:
sem seu amor
enlouqueci
e ando dodói
como Tarzã depois da gripe
de emplasto Sabiá
sempre zanzando nos botequins
eu vou me acabar
Espremo cravos
defronte ao espelho
lembrando você.
Faço novena
tomo gemada
ai, não há mais
Julio Lousada
que me socorra
nessa aflição mortal
Maracujina
já não resolve
ao ecordar
meias fume
ligas vermelhas
e um olhar fatal...
Minha Dalila.
volta depressa
que o teu sansão
tá mal.
Olha meu bem
o que restou
daquele grande herói:
sem seu amor
enlouqueci
e ando dodói
como Tarzã depois da gripe
de emplasto Sabiá
sempre zanzando nos botequins
eu vou me acabar
Espremo cravos
defronte ao espelho
lembrando você.
Faço novena
tomo gemada
ai, não há mais
Julio Lousada
que me socorra
nessa aflição mortal
Maracujina
já não resolve
ao ecordar
meias fume
ligas vermelhas
e um olhar fatal...
Minha Dalila.
volta depressa
que o teu sansão
tá mal.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Aldir Blanc - Apontamentos
A radiografia da zona norte carioca , das mocinha de meias 3/4 e escudos de colégio , dos patins que quedam graciosamente em Paquetá , dos blocos de carnaval e do concurso miss suéter , saudade de um tempo de revista antiga de álbuns cobertos de poeira de estrelas .
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Aventura
Composição: Eduardo Dussek / Luiz Carlos Góes
Vi seu olhar seu olhar de festa, de farol de moto, azul celeste
me ganhou no ato uma carona pra lua .....te arrastei estradas,desertos
Botecos abrindo e a gente rindo, brindando cerveja, como se fossechampagne
Todos faróis me lembram seu olhos, durmo a viajar entre lençóis
seu corpo fica a dançar, no meio do nosso jantar, luz de velas
Aventurar por toda cidade a te procurar, todos lugares
Pintam ciúmes na mesa de um bar, mas você sente a começa abrincar
Diz : Fica frio, meu bem, é melhor relaxar
Palmeira no mar
Composição: Eduardo Dussek / Luiz Carlos Góes
Vi seu olhar seu olhar de festa, de farol de moto, azul celeste
me ganhou no ato uma carona pra lua .....te arrastei estradas,desertos
Botecos abrindo e a gente rindo, brindando cerveja, como se fossechampagne
Todos faróis me lembram seu olhos, durmo a viajar entre lençóis
seu corpo fica a dançar, no meio do nosso jantar, luz de velas
Aventurar por toda cidade a te procurar, todos lugares
Pintam ciúmes na mesa de um bar, mas você sente a começa abrincar
Diz : Fica frio, meu bem, é melhor relaxar
Palmeira no mar
sábado, 2 de agosto de 2008
Julio Iglesias - de niña a mujer
Em certos momentos é necessário deixar o preconceito de lado e descobrir que existe beleza em estilos que à primeira vista parecem " cafonas " ou fora de moda . Mesmo sabendo do impacto que a Bossa Nova trouxe revolucionando o modo de tocar e a poética ,não dá pra desprezar tantas jóias que foram cantadas por Nelson Gonçalves , Orlando Silva entre outros . Júlio Iglesias tantas vezes tachado de " açucarado " apresenta no disco de Nina a Mujer várias belas canções , com arranjos bem elaborados e letras de boa qualidade , certo que existe um derramamento emotivo , porém no disco estão representando uma latinidade que mesmo as pessoas mais sofisticadas não deixam de ter . Volver a Empezar uma versão do clássico "Begin the Beguine "de Cole Porter ," De Niña a Mujer " , " Manuela " entre outras são canções bem realizadas . Devemos ter cuidado com a idéia de evolução , como se uma novidade aclamada pela crítica lançasse no limbo pérolas antigas
Diniz gonçalves júnior
Diniz gonçalves júnior
sexta-feira, 25 de julho de 2008
quinta-feira, 24 de julho de 2008
segunda-feira, 14 de julho de 2008
A Vida Que Diz
Composição: Marina Lima/ Antônio Cícero/ Pisca
Vem comigo agora
Hoje enquanto a gente se adora
E a vida diz baixinho
É hoje
É o amor que te envolve
É o amor que te move
Eu te procurava longe
E gente que eu amava
Só pra me perder de ti
Se o nosso amor ninguém remove
Ninguém perfumes e aromas diferentes
Beijos que nunca são iguais
Porque não confessamos simplesmente
Nós dois nos desejamos mais e mais
É a vida que diz
É hoje
Composição: Marina Lima/ Antônio Cícero/ Pisca
Vem comigo agora
Hoje enquanto a gente se adora
E a vida diz baixinho
É hoje
É o amor que te envolve
É o amor que te move
Eu te procurava longe
E gente que eu amava
Só pra me perder de ti
Se o nosso amor ninguém remove
Ninguém perfumes e aromas diferentes
Beijos que nunca são iguais
Porque não confessamos simplesmente
Nós dois nos desejamos mais e mais
É a vida que diz
É hoje
Ana Rusche
A CERAMISTA
a partir de Concha e Aurora,
criações de Ângela Barros e Alberto Guzik
agora já são cinco prives
antes era um prédio respeitável
escavo escadas ante a nudez
do elevador, guilhotina pichada
no pó suspenso no ar
catedrais de coisas abandonadas
e lá dentro chafurdo com minhas duas
mãos nas peças de cerâmica
e como parteira tiro do barro
um caco, um vaso, um sonho, um sopro
a partir de Concha e Aurora,
criações de Ângela Barros e Alberto Guzik
agora já são cinco prives
antes era um prédio respeitável
escavo escadas ante a nudez
do elevador, guilhotina pichada
no pó suspenso no ar
catedrais de coisas abandonadas
e lá dentro chafurdo com minhas duas
mãos nas peças de cerâmica
e como parteira tiro do barro
um caco, um vaso, um sonho, um sopro
Adão Ventura
FAÇA SOL OU FAÇA TEMPESTADE
faça sol ou faça tempestade,
meu corpo é fechado
por esta pele negra.
faça sol ou faça tempestade
meu corpo é cercado
por estes muros altos,
— currais
onde ainda se coagula
o sangue dos escravos.
faça sol
ou faça tempestade,
meu corpo é fechado
por esta pele negra.
faça sol ou faça tempestade,
meu corpo é fechado
por esta pele negra.
faça sol ou faça tempestade
meu corpo é cercado
por estes muros altos,
— currais
onde ainda se coagula
o sangue dos escravos.
faça sol
ou faça tempestade,
meu corpo é fechado
por esta pele negra.
domingo, 13 de julho de 2008
domingo, 6 de julho de 2008
Disse alguém [All of me]
(Seymour Simons e Gerald Marks, versão de Haroldo Barbosa)
Disse alguém que há bem no coração
Um salão onde o amor descança
Ai de mim que estou tão sozinho
Vivo assim, sem esperança
A implorar alguém que não me quis
E feliz, bem feliz seria
Coração meu, convém descansar
Soluçar mais devagar
Disse alguém que há bem no coração
Um salão, um salão dourado onde o amor sempre dança
Ai de mim que só vivo tão sozinho
Vivo assim, vivo sem ter um terno carinho
A implorar alguém que não me quis
E feliz então eu sei, bem sei que não mais seria
Meu, meu coração sem esperança
E vive a chorar, soluçar
Como quem tem medo de reclamar
(Seymour Simons e Gerald Marks, versão de Haroldo Barbosa)
Disse alguém que há bem no coração
Um salão onde o amor descança
Ai de mim que estou tão sozinho
Vivo assim, sem esperança
A implorar alguém que não me quis
E feliz, bem feliz seria
Coração meu, convém descansar
Soluçar mais devagar
Disse alguém que há bem no coração
Um salão, um salão dourado onde o amor sempre dança
Ai de mim que só vivo tão sozinho
Vivo assim, vivo sem ter um terno carinho
A implorar alguém que não me quis
E feliz então eu sei, bem sei que não mais seria
Meu, meu coração sem esperança
E vive a chorar, soluçar
Como quem tem medo de reclamar
Antonio de Franceschi
CIRCO MÁXIMO
Leões incontidos
tangenciam os varais
sou a carne exposta
no festim impuro
promessas de meu ventre
em seus dentes duros
no sangue imolado
de rompidas veias
me parto hóstia fendida
me derramo na areia
eu matéria consentida
desta rude ceia
Leões incontidos
tangenciam os varais
sou a carne exposta
no festim impuro
promessas de meu ventre
em seus dentes duros
no sangue imolado
de rompidas veias
me parto hóstia fendida
me derramo na areia
eu matéria consentida
desta rude ceia
domingo, 29 de junho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
segunda-feira, 23 de junho de 2008
sábado, 21 de junho de 2008
Campo Mourão
http://www.mp3tube.net/musics/marcelo-manzano-composicao-Daniel-Silveira-e-Diniz-Junior-Campo-Mourao/175681/
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Yes, Zé Manés
Composição: Guinga/Aldir Blanc
A atmosfera
zera a geografia: eu ouço na Bahia sons
de Georgia on my mind,
Miles na Baixada,
bailes e a subida/ do Pão de Açúcar,
duca a loura num hi-fi.
Oh, someday you'll come,
moonlight, haikai,
ali no angu do Gomes,
cara tara,
wickbold noves,
pringle pop engovs,
Mistmust o amor dos pobres:
tô correndo atrás de uns cobres pra comprar
presente pra você, my love,
Contigo eu sei que sou,
I know, my soul,
Romário em frente ao gol,
sem vintém,
be my guest, moroless,
igual a Porgy and Bess.
Composição: Guinga/Aldir Blanc
A atmosfera
zera a geografia: eu ouço na Bahia sons
de Georgia on my mind,
Miles na Baixada,
bailes e a subida/ do Pão de Açúcar,
duca a loura num hi-fi.
Oh, someday you'll come,
moonlight, haikai,
ali no angu do Gomes,
cara tara,
wickbold noves,
pringle pop engovs,
Mistmust o amor dos pobres:
tô correndo atrás de uns cobres pra comprar
presente pra você, my love,
Contigo eu sei que sou,
I know, my soul,
Romário em frente ao gol,
sem vintém,
be my guest, moroless,
igual a Porgy and Bess.
domingo, 15 de junho de 2008
Antonio Fernando de Franceschi
Arlequina
te cubro
déguisé
insubmissa
refração
em meandros
te finjo
e perco
de repente
te cubro
déguisé
insubmissa
refração
em meandros
te finjo
e perco
de repente
Francis Ponge
A OSTRA
A ostra, do tamanho de um seixo mediano, tem uma aparência mais rugosa, uma cor menos uniforme, brilhantemente esbranquiçada. É um mundo recalcitrantemente fechado. Entretanto, pode-se abri-lo: é preciso então agarrá-la com um pano de prato, usar de uma faca pouco cortante, denteada, fazer várias tentativas. Os dedos curiosos ficam trinchados, as unhas se quebram: é um trabalho grosseiro. Os golpes que lhe são desferidos marcam de círculos brancos seu invólucro, como halos.
No interior encontra-se todo um mundo, de comer e de beber: sob um "firmamento" (propriamente falando) de madrepérola, os céus de cima se encurvam sobre os céus de baixo, para formar nada mais que um charco, um sachê viscoso e verdejante, que flui e reflui para a vista e o olfato, com franjas de renda negra nas bordas.
Por vezes mui raro uma fórmula peroliza em sua goela nácar, e alguém encontra logo com que se adornar.
(Trad: Ignácio Antonio Neis e Michel Peterson)
A ostra, do tamanho de um seixo mediano, tem uma aparência mais rugosa, uma cor menos uniforme, brilhantemente esbranquiçada. É um mundo recalcitrantemente fechado. Entretanto, pode-se abri-lo: é preciso então agarrá-la com um pano de prato, usar de uma faca pouco cortante, denteada, fazer várias tentativas. Os dedos curiosos ficam trinchados, as unhas se quebram: é um trabalho grosseiro. Os golpes que lhe são desferidos marcam de círculos brancos seu invólucro, como halos.
No interior encontra-se todo um mundo, de comer e de beber: sob um "firmamento" (propriamente falando) de madrepérola, os céus de cima se encurvam sobre os céus de baixo, para formar nada mais que um charco, um sachê viscoso e verdejante, que flui e reflui para a vista e o olfato, com franjas de renda negra nas bordas.
Por vezes mui raro uma fórmula peroliza em sua goela nácar, e alguém encontra logo com que se adornar.
(Trad: Ignácio Antonio Neis e Michel Peterson)
Vladímir Maiakóvski
BLUSA FÁTUA
Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.
Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!
Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!
(tradução: Augusto de Campos)
Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, donjuan, com ar de dândi.
Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Não sei se é porque o céu é azul celeste
e a terra, amante, me estende as mãos ardentes
que eu faço versos alegres como marionetes
e afiados e precisos como palitar dentes!
Fêmeas, gamadas em minha carne, e esta
garota que me olha com amor de gêmea,
cubram-me de sorrisos, que eu, poeta,
com flores os bordarei na blusa cor de gema!
(tradução: Augusto de Campos)
Vladímir Maiakóvski
A SIERGUÉI IESSIÊNIN
Você partiu,
como se diz,
para o outro mundo.
Vácuo. . .
Você sobe,
entremeado às estrelas.
Nem álcool,
nem moedas.
Sóbrio.
Vôo sem fundo.
Não, lessiênin,
não posso
fazer troça, -
Na boca
uma lasca amarga
não a mofa.
Olho -
sangue nas mãos frouxas,
você sacode
o invólucro
dos ossos.
Sim,
se você tivesse
um patrono no "Posto" -
ganharia
um conteúdo
bem diverso:
todo dia
uma quota
de cem versos,
longos
e lerdos,
como Dorônin.
Remédio?
Para mim,
despautério:
mais cedo ainda
você estaria nessa corda.
Melhor
morrer de vodca
que de tédio !
Não revelam
as razões
desse impulso
nem o nó,
nem a navalha aberta.
Pare,
basta !
Você perdeu o senso? -
Deixar
que a cal
mortal
Ihe cubra o rosto?
Você,
com todo esse talento
para o impossível;
hábil
como poucos.
Por quê?
Para quê?
Perplexidade.
- É o vinho!
- a crítica esbraveja.
Tese:
refratário à sociedade.
Corolário:
muito vinho e cerveja.
Sim,
se você trocasse
a boêmia
pela classe;
A classe agiria em você,
e Ihe daria um norte.
E a classe
por acaso
mata a sede com xarope?
Ela sabe beber -
nada tem de abstêmia.
Talvez,
se houvesse tinta
no "Inglaterra";
você
não cortaria
os pulsos.
Os plagiários felizes
pedem: bis!
Já todo
um pelotão
em auto-execução.
Para que
aumentar
o rol de suicidas?
Antes
aumentar
a produção de tinta!
Agora
para sempre
tua boca
está cerrada.
Difícil
e inútil
excogitar enigmas.
O povo,
o inventa-línguas,
perdeu
o canoro
contramestre de noitadas.
E levam
versos velhos
ao velório,
sucata
de extintas exéquias.
Rimas gastas
empalam
os despojos, -
é assim
que se honra
um poeta?
-Não
te ergueram ainda um monumento -
onde
o som do bronze
ou o grave granito? -
E já vão
empilhando
no jazigo
dedicatórias e ex-votos:
excremento.
Teu nome
escorrido no muco,
teus versos,
Sóbinov os babuja,
voz quérula
sob bétulas murchas -
"Nem palavra, amigo,
nem so-o-luço".
Ah,
que eu saberia dar um fim
a esse
Leonid Loengrim!(5)
Saltaria
- escândalo estridente:
- Chega
de tremores de voz!
Assobios
nos ouvidos
dessa gente,
ao diabo
com suas mães e avós!
Para que toda
essa corja explodisse
inflando
os escuros
redingotes,
e Kógan(6)
atropelado
fugisse,
espetando
os transeuntes
nos bigodes.
Por enquanto
há escória
de sobra.
0 tempo é escasso -
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
Os tempos estão duros
para o artista:
Mas,
dizei-me,
anêmicos e anões,
os grandes,
onde,
em que ocasião,
escolheram
uma estrada
batida?
General
da força humana
- Verbo -
marche!
Que o tempo
cuspa balas
para trás,
e o vento
no passado
só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria
ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.
(Tradução de Haroldo de Campos)
Você partiu,
como se diz,
para o outro mundo.
Vácuo. . .
Você sobe,
entremeado às estrelas.
Nem álcool,
nem moedas.
Sóbrio.
Vôo sem fundo.
Não, lessiênin,
não posso
fazer troça, -
Na boca
uma lasca amarga
não a mofa.
Olho -
sangue nas mãos frouxas,
você sacode
o invólucro
dos ossos.
Sim,
se você tivesse
um patrono no "Posto" -
ganharia
um conteúdo
bem diverso:
todo dia
uma quota
de cem versos,
longos
e lerdos,
como Dorônin.
Remédio?
Para mim,
despautério:
mais cedo ainda
você estaria nessa corda.
Melhor
morrer de vodca
que de tédio !
Não revelam
as razões
desse impulso
nem o nó,
nem a navalha aberta.
Pare,
basta !
Você perdeu o senso? -
Deixar
que a cal
mortal
Ihe cubra o rosto?
Você,
com todo esse talento
para o impossível;
hábil
como poucos.
Por quê?
Para quê?
Perplexidade.
- É o vinho!
- a crítica esbraveja.
Tese:
refratário à sociedade.
Corolário:
muito vinho e cerveja.
Sim,
se você trocasse
a boêmia
pela classe;
A classe agiria em você,
e Ihe daria um norte.
E a classe
por acaso
mata a sede com xarope?
Ela sabe beber -
nada tem de abstêmia.
Talvez,
se houvesse tinta
no "Inglaterra";
você
não cortaria
os pulsos.
Os plagiários felizes
pedem: bis!
Já todo
um pelotão
em auto-execução.
Para que
aumentar
o rol de suicidas?
Antes
aumentar
a produção de tinta!
Agora
para sempre
tua boca
está cerrada.
Difícil
e inútil
excogitar enigmas.
O povo,
o inventa-línguas,
perdeu
o canoro
contramestre de noitadas.
E levam
versos velhos
ao velório,
sucata
de extintas exéquias.
Rimas gastas
empalam
os despojos, -
é assim
que se honra
um poeta?
-Não
te ergueram ainda um monumento -
onde
o som do bronze
ou o grave granito? -
E já vão
empilhando
no jazigo
dedicatórias e ex-votos:
excremento.
Teu nome
escorrido no muco,
teus versos,
Sóbinov os babuja,
voz quérula
sob bétulas murchas -
"Nem palavra, amigo,
nem so-o-luço".
Ah,
que eu saberia dar um fim
a esse
Leonid Loengrim!(5)
Saltaria
- escândalo estridente:
- Chega
de tremores de voz!
Assobios
nos ouvidos
dessa gente,
ao diabo
com suas mães e avós!
Para que toda
essa corja explodisse
inflando
os escuros
redingotes,
e Kógan(6)
atropelado
fugisse,
espetando
os transeuntes
nos bigodes.
Por enquanto
há escória
de sobra.
0 tempo é escasso -
mãos à obra.
Primeiro
é preciso
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida.
Os tempos estão duros
para o artista:
Mas,
dizei-me,
anêmicos e anões,
os grandes,
onde,
em que ocasião,
escolheram
uma estrada
batida?
General
da força humana
- Verbo -
marche!
Que o tempo
cuspa balas
para trás,
e o vento
no passado
só desfaça
um maço de cabelos.
Para o júbilo
o planeta
está imaturo.
É preciso
arrancar alegria
ao futuro.
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e seu ofício.
(Tradução de Haroldo de Campos)
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Vielimir Khlébnikov
ENCANTAÇÃO PELO RISO
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Tradução de Haroldo de Campos
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Tradução de Haroldo de Campos
Vielimir Khlébnikov
Tempos-juncos
Na margem do lago,
Onde as pedras são tempo,
Onde o tempo é de pedra.
No lago da margem,
Tempos, juncos,
Na margem do lago,
Santos, juntos.
1908 ou 1909
Tradução de Augusto de Campos e Bóris Schnaiderman
Na margem do lago,
Onde as pedras são tempo,
Onde o tempo é de pedra.
No lago da margem,
Tempos, juncos,
Na margem do lago,
Santos, juntos.
1908 ou 1909
Tradução de Augusto de Campos e Bóris Schnaiderman
segunda-feira, 9 de junho de 2008
terça-feira, 3 de junho de 2008
quarta-feira, 28 de maio de 2008
ÀS MINHAS COSTAS ( Sérgio Alcides )
As portas do metrô mastigam
o ar condicionado.
Estou em trânsito, com os demais.
Percorremos a rede incorpórea
que há de permanecer.
Não se ultrapassa a linha amarela.
Nada cheira. E a escada rolante
– áspera via – até se alegoriza
ao conduzir-nos de volta ao simulacro
passageiro das avenidas.
Na saída, ponho os óculos escuros.
As portas do metrô mastigam
o ar condicionado.
Estou em trânsito, com os demais.
Percorremos a rede incorpórea
que há de permanecer.
Não se ultrapassa a linha amarela.
Nada cheira. E a escada rolante
– áspera via – até se alegoriza
ao conduzir-nos de volta ao simulacro
passageiro das avenidas.
Na saída, ponho os óculos escuros.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Sinal De Amor E De Perigo
Composição: Patinhas / Capenga
À noite e a cidade parece que some
Perdida no sono dos sonhos dos homens
Que vão construindo com fibras de vidro
Com canções de infância, com tempo perdido
Um grande cartaz um painel de aviso
Um sinal de amor e de perigo
Um sinal de amor e de perigo
Há tempo em que a terra parece que some
Em meio a alegria e tristeza dos homens
Que olham pros campos pros mares cidades
Pras noites vazias, pra felicidade
Com o mesmo olhar de quem grita no escuro
O melhor foi feito no futuro
O melhor foi feito no futuro
Enquanto o amor for pecado eo trabalho um fardo
Pesado passado presente mal dado
As flores feridas se curam no orvalho
Mas os homens sedentos não encontram regato
Que banhe seu corpo e lave sua alma
O desejo é forte mas não salva
O desejo é forte mas não salva
Enquanto a tristeza esmagar o peito da terra
E a saudade afastar as pessoas partindo pra guerra
Nós vamos perdendo um tempo profundo
A força da vida o destino do mundo
O segredo que o rio entrega pra serra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
Composição: Patinhas / Capenga
À noite e a cidade parece que some
Perdida no sono dos sonhos dos homens
Que vão construindo com fibras de vidro
Com canções de infância, com tempo perdido
Um grande cartaz um painel de aviso
Um sinal de amor e de perigo
Um sinal de amor e de perigo
Há tempo em que a terra parece que some
Em meio a alegria e tristeza dos homens
Que olham pros campos pros mares cidades
Pras noites vazias, pra felicidade
Com o mesmo olhar de quem grita no escuro
O melhor foi feito no futuro
O melhor foi feito no futuro
Enquanto o amor for pecado eo trabalho um fardo
Pesado passado presente mal dado
As flores feridas se curam no orvalho
Mas os homens sedentos não encontram regato
Que banhe seu corpo e lave sua alma
O desejo é forte mas não salva
O desejo é forte mas não salva
Enquanto a tristeza esmagar o peito da terra
E a saudade afastar as pessoas partindo pra guerra
Nós vamos perdendo um tempo profundo
A força da vida o destino do mundo
O segredo que o rio entrega pra serra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
Haverá um homem no céu e deuses na terra
segunda-feira, 12 de maio de 2008
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Espaços Cromáticos
Caminhava entre as conchas do esquecimento . A cada onda que pulava , ficava mais confuso . A cidade que conhecera não existia mais , havia sido tragada por algum inexplicável acontecimento . Estranhamente observava que um prédio da orla continuava no mesmo lugar ; o edifício verde-mar e seus amplos espaços modernistas . Percebia que a areia ficava cada dia mais cítrica . O fenômeno acontecia devido aos reflexos solares de variações intensas . No caminho do antigo Aquário Municipal notara que os desenhos das calçadas haviam sido trocados , em vez das tradicionais representações de ondas , viam-se exóticos ideogramas . Lembrava de uma estátua em homenagem ao imigrante japonês , mesmo assim não entendeu o motivo da troca . Quando adolescente havia entrado no Verde-mar algumas vezes . Corredores labirínticos , a estranha localização dos elevadores , parecia uma representação de algum espaço submerso . A água do mar , vitral repleto de tonalidades suaves , os vazamentos de óleo não voltaram a ocorrer . As adolescentes cantavam árias cromáticas espalhadas pelos ventos de verão . Avistavam-se navios , o horizonte traçava uma linha paralela . Ela não está mais lá , com seus cílios árabes . Os dias mudaram , o carnaval no Clube Sírio pertence a outras gerações, que cantam músicas diferentes , não sabem que existiam conchas nas divisórias da areia.
Diniz Antônio Gonçalves Júnior
Caminhava entre as conchas do esquecimento . A cada onda que pulava , ficava mais confuso . A cidade que conhecera não existia mais , havia sido tragada por algum inexplicável acontecimento . Estranhamente observava que um prédio da orla continuava no mesmo lugar ; o edifício verde-mar e seus amplos espaços modernistas . Percebia que a areia ficava cada dia mais cítrica . O fenômeno acontecia devido aos reflexos solares de variações intensas . No caminho do antigo Aquário Municipal notara que os desenhos das calçadas haviam sido trocados , em vez das tradicionais representações de ondas , viam-se exóticos ideogramas . Lembrava de uma estátua em homenagem ao imigrante japonês , mesmo assim não entendeu o motivo da troca . Quando adolescente havia entrado no Verde-mar algumas vezes . Corredores labirínticos , a estranha localização dos elevadores , parecia uma representação de algum espaço submerso . A água do mar , vitral repleto de tonalidades suaves , os vazamentos de óleo não voltaram a ocorrer . As adolescentes cantavam árias cromáticas espalhadas pelos ventos de verão . Avistavam-se navios , o horizonte traçava uma linha paralela . Ela não está mais lá , com seus cílios árabes . Os dias mudaram , o carnaval no Clube Sírio pertence a outras gerações, que cantam músicas diferentes , não sabem que existiam conchas nas divisórias da areia.
Diniz Antônio Gonçalves Júnior
terça-feira, 15 de abril de 2008
domingo, 30 de março de 2008
Estate
Composição: Bruno Brighetti/Bruno Martino
i baci che ho perduto
Sei piena de un´amore che è passato
E il cuore mio vorrebbe cancelare
Estate
Il sole che ogni giorno ci scaldava
Che splendidi tramonti dipingeva
Adesso brucia solo com furor
Tornerà un altro inverno
Cadrano mille petali di rose
La neve coprirá tutte le cose
E forse, un pò di pace tornerà
Estate
Che ha datto il suo profumo ad ogni fiore
L´estate che ha creato il nostro amore
Per farmi poi, morire di dolore
Composição: Bruno Brighetti/Bruno Martino
i baci che ho perduto
Sei piena de un´amore che è passato
E il cuore mio vorrebbe cancelare
Estate
Il sole che ogni giorno ci scaldava
Che splendidi tramonti dipingeva
Adesso brucia solo com furor
Tornerà un altro inverno
Cadrano mille petali di rose
La neve coprirá tutte le cose
E forse, un pò di pace tornerà
Estate
Che ha datto il suo profumo ad ogni fiore
L´estate che ha creato il nostro amore
Per farmi poi, morire di dolore
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Curso “Caetano Veloso, poeta”
Dias 5, 12, 19, 26 de março e 2, 9, 16, 26, 30 de abril de 2008.
Preço - R$10,00
Inscrições na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37 - Bela Vista - São Paulo
Fone: 11 3285-6986/ 3288-9447
Funcionamento: Aberta de terça a domingo, das 11h às 21h.
Dias 5, 12, 19, 26 de março e 2, 9, 16, 26, 30 de abril de 2008.
Preço - R$10,00
Inscrições na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37 - Bela Vista - São Paulo
Fone: 11 3285-6986/ 3288-9447
Funcionamento: Aberta de terça a domingo, das 11h às 21h.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
MÁSCARA ( Dante Milano )
Passa o tempo da face
E o prazer de mostrá-la.
Vem o tempo do só,
A rua do desgosto,
O trilho interminável
Numa estrada sem casas.
O final do espetáculo,
A sala abandonada,
O palco desmantelado.
Do que foi uma face
Resta apenas a máscara,
O retrato, a verônica,
O fantasma do espelho,
O espantalho barbeado,
A face deslavada,
Mais sulcada, mais suja,
De beijada, cuspida,
Amarrotada
Como um jornal velho.
Máscara desbotada
De carnavais passados.
Esta é a nossa cara
Escaveirada.
Até que a terra
Com sua garra
Nos rasgue a máscara.
Passa o tempo da face
E o prazer de mostrá-la.
Vem o tempo do só,
A rua do desgosto,
O trilho interminável
Numa estrada sem casas.
O final do espetáculo,
A sala abandonada,
O palco desmantelado.
Do que foi uma face
Resta apenas a máscara,
O retrato, a verônica,
O fantasma do espelho,
O espantalho barbeado,
A face deslavada,
Mais sulcada, mais suja,
De beijada, cuspida,
Amarrotada
Como um jornal velho.
Máscara desbotada
De carnavais passados.
Esta é a nossa cara
Escaveirada.
Até que a terra
Com sua garra
Nos rasgue a máscara.
domingo, 27 de janeiro de 2008
Acrilírico
Composição: Caetano Veloso/Rogério Duprat
Olhar colírico
Lirios plásticos do campo e do contracampo
Telástico cinemascope teu sorriso tudo isso
Tudo ido e lido e lindo e vindo do vivido
Na minha adolescidade
Idade de pedra e paz
Teu sorriso quieto no meu canto
Ainda canto o ido o tido o dito
O dado o consumido
O consumado
Ato
Do amor morto motor da saudade
Diluído na grandicidade
Idade de pedra ainda
Canto quieto o que conheço
Quero o que não mereço
O começo
Quero canto de vinda
Divindade do duro totem futuro total
Tal qual quero canto
Por enquanto apenas mino o campo ver-te
Acre e lírico o sorvete
Acrilíco Santo Amargo da Putrificação
Composição: Caetano Veloso/Rogério Duprat
Olhar colírico
Lirios plásticos do campo e do contracampo
Telástico cinemascope teu sorriso tudo isso
Tudo ido e lido e lindo e vindo do vivido
Na minha adolescidade
Idade de pedra e paz
Teu sorriso quieto no meu canto
Ainda canto o ido o tido o dito
O dado o consumido
O consumado
Ato
Do amor morto motor da saudade
Diluído na grandicidade
Idade de pedra ainda
Canto quieto o que conheço
Quero o que não mereço
O começo
Quero canto de vinda
Divindade do duro totem futuro total
Tal qual quero canto
Por enquanto apenas mino o campo ver-te
Acre e lírico o sorvete
Acrilíco Santo Amargo da Putrificação
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Donizete Galvão : A Poesia ao Rés da Rua
A poesia que se instala ao rés da rua, na concretude do cotidiano Busca as "evidências pedestres". Poesia que fala do que é "finito e matéria". Trata do embate dos poetas com a cidade, sua arquitetura, os subúrbios, os resíduos, o ruído urbano, as ruínas. O curso abordará poemas de André Luiz Pinto, Fabio Weintraub, Paulo Ferraz, Ruy Proença, Sérgio Alcides e Tarso de Melo. O que acham, o que perdem, o que recusam nas suas andanças.
De 21 a 23 de janeiro, das 19 às 21h - curso
Leitura de poemas com a presença de André Luiz Pinto, Diniz Gonçalves Jr., Donizete Galvão, Fábio Weintraub, Paulo Ferraz, Ruy Proença, Sérgio Alcides e Tarso de Melo.
24 de janeiro, às 19h
Biblioteca Alceu Amoroso Lima
Av. Henrique Achumann , 777
Pinheiros - São Paulo - SP
A poesia que se instala ao rés da rua, na concretude do cotidiano Busca as "evidências pedestres". Poesia que fala do que é "finito e matéria". Trata do embate dos poetas com a cidade, sua arquitetura, os subúrbios, os resíduos, o ruído urbano, as ruínas. O curso abordará poemas de André Luiz Pinto, Fabio Weintraub, Paulo Ferraz, Ruy Proença, Sérgio Alcides e Tarso de Melo. O que acham, o que perdem, o que recusam nas suas andanças.
De 21 a 23 de janeiro, das 19 às 21h - curso
Leitura de poemas com a presença de André Luiz Pinto, Diniz Gonçalves Jr., Donizete Galvão, Fábio Weintraub, Paulo Ferraz, Ruy Proença, Sérgio Alcides e Tarso de Melo.
24 de janeiro, às 19h
Biblioteca Alceu Amoroso Lima
Av. Henrique Achumann , 777
Pinheiros - São Paulo - SP
domingo, 20 de janeiro de 2008
Tudo Veludo
(Lobão- Bernardo Vilhena)
Quando você quer ser mais do que eu
Querendo ser mais do que eu sou eu
Não tem sentido sorriso, palavra
Nada é capaz de fazer voltar a mim
E eu estou aqui
Só com o meu desejo
E você morena, morena, antena e raiz
Tem certas coisas que a gente não diz
Mas eu perdi o jeito
O jeito de ser
Tua tristeza e tua beleza
São coisas do mundo
Como tem danças da vida
Tem danças da dor
Tudo veludo
Tudo tudo tudo tudo
Tudo azul na noite.
(Lobão- Bernardo Vilhena)
Quando você quer ser mais do que eu
Querendo ser mais do que eu sou eu
Não tem sentido sorriso, palavra
Nada é capaz de fazer voltar a mim
E eu estou aqui
Só com o meu desejo
E você morena, morena, antena e raiz
Tem certas coisas que a gente não diz
Mas eu perdi o jeito
O jeito de ser
Tua tristeza e tua beleza
São coisas do mundo
Como tem danças da vida
Tem danças da dor
Tudo veludo
Tudo tudo tudo tudo
Tudo azul na noite.
domingo, 13 de janeiro de 2008
Remelexo - Caetano Veloso
Que menina é aquela
Que entrou na roda agora
Eu quero falar com ela
Ninguém sabe onde ela mora
Por ela bate o pandeiro
Por ela canta a viola
Enquanto ela está sambando
Ninguém mais entra na roda
Enquanto ela samba
As outras ficam do lado de fora
E quando ela pára
O samba se acaba na mesma hora
Valha-me Deus! Se ela pára o samba
E vai-se embora
Eu quero falar com ela
Ninguém sabe onde ela mora
Ninguém sabe sua janela
Ninguém sabe sua porta
Quem sabe se ela é donzela
Quem sabe se ela namora
E depois o samba acaba
E ela fica na memória
Por ela bate o meu peito
Por ela a viola chora
Que menina é aquela
Que entrou na roda agora
Ninguém sabe nessa terra
Me contar a sua história
Que menina é aquela
Que entrou na roda agora
Ela tem um remelexo
Que valha-me Deus! Nossa Senhora!
Que entrou na roda agora
Eu quero falar com ela
Ninguém sabe onde ela mora
Por ela bate o pandeiro
Por ela canta a viola
Enquanto ela está sambando
Ninguém mais entra na roda
Enquanto ela samba
As outras ficam do lado de fora
E quando ela pára
O samba se acaba na mesma hora
Valha-me Deus! Se ela pára o samba
E vai-se embora
Eu quero falar com ela
Ninguém sabe onde ela mora
Ninguém sabe sua janela
Ninguém sabe sua porta
Quem sabe se ela é donzela
Quem sabe se ela namora
E depois o samba acaba
E ela fica na memória
Por ela bate o meu peito
Por ela a viola chora
Que menina é aquela
Que entrou na roda agora
Ninguém sabe nessa terra
Me contar a sua história
Que menina é aquela
Que entrou na roda agora
Ela tem um remelexo
Que valha-me Deus! Nossa Senhora!
domingo, 6 de janeiro de 2008
Mônica de Aquino
A um átimo
do amo-te
temo-te.
A um istmo
do íntimo
mente.
De cor, somente
o silêncio
(continente).
E a linguagem,
cortejo
(périplo).
Mas o amor:
arquipélago.
do amo-te
temo-te.
A um istmo
do íntimo
mente.
De cor, somente
o silêncio
(continente).
E a linguagem,
cortejo
(périplo).
Mas o amor:
arquipélago.
Mônica de Aquino
Ser mínima.
Cortar cabelo
unha pele
mas sem o cálculo da cutícula.
Despir-me de tudo
o que não dói.
Ultrapassar toda a carne
e roer osso –
canina –
roer o rabo.
Roer, ainda,
os próprios dentes
agudos
rentes
Cortar cabelo
unha pele
mas sem o cálculo da cutícula.
Despir-me de tudo
o que não dói.
Ultrapassar toda a carne
e roer osso –
canina –
roer o rabo.
Roer, ainda,
os próprios dentes
agudos
rentes
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
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